Descrição
Ao leitor, o espaço ocupado por silêncios e escutas. Sem imagens, só palavras que recriam um lugar sem lugar, estados de espírito e verdades atemporais. Devolver o solo para sua condição primeira, um texto, sobre o texto de Izabel de Barros Stewart, a Bel. Escrito pelo impulso da necessidade e coerência da artista/ambientalista e agora escritora/dramaturga. O Solo da Cana é uma verborragia contundente e transformadora para quem o vivencia, tropeço facilmente na sua ironia linguística e seus códigos ambientais. Quando sigo pela captura concreta da escrita, encontro palavras sugestivas, palavras que se tornam outras tantas noutras línguas, por meio dos sons que ecoam na minha cabeça e que se transformam de fato numa dúvida, a escrita é a fala? Escrever para mover traz o exercício geográfico do tempo, não propriamente da duração, aliás, encenar essa escrita é somente uma camada a mais dessa aventura letrada. Dito isso, quem veio primeiro, o movimento ou o pensamento? O entendimento ou a indignação? Tamo junto!! Escrever o Solo, ler a Cana, ler o texto, lê-lo em voz alta, deslocar-se lendo, gesticular com o texto, dizê-lo ao ar livre, num teatro com recurso de luz, fazer valer as falas em espaços áridos, para as mais diversas escutas, escrever para essa escuridão sem plateia que é a edição de um livro. Lugar de vitrine, de pessoas que percebem uma encadernação numa livraria sobre o que um vegetal tem a nos dizer, caso usufruísse das palavras para se comunicar. O que surpreende é isso, uma argumentação gramatical/vegetal feita por uma mulher de cinquenta anos que se ocupa de causas necessárias para seguirmos. Sua disposição tem a ignição do texto e o percurso da comunicação cênica, numa jornada que não termina, sem ponto final
JOÃO SALDANHA