Descrição
Flávia Souza Lima preenche um pré-requisito que considero fundamental a quem se dispõe a servir à poesia: o da precisão. E essa precisão está presente em cada um dos textos que compõem este Desjeitos, tanto nos poemas de amor (ou que tratam da falta dele) quanto nos motivados pelas transformações provocadas pela pandemia da Covid-19.
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A precisão é característica ainda mais evidenciada quando aliada a outra, esta certamente uma herança dos poetas surgidos nos anos 1970: a de um discurso sucinto, lacônico até. Essa influência fica explícita quando evoca nomes como o de Adélia Prado (“Adélia”) ou quando dá pistas de referências como a de Ana Cristina Cesar (“escrevo-te/a teus pés”) ou, entrando na década seguinte, a de Ledusha Spinardi (“Hoje é tédio/e não Toddy”).
Outra influência que quero ressaltar é a daque- le que é, até hoje, um farol para todos os poetas brasileiros, desde os surgidos nos anos 1960 aos da atualidade, grupo no qual estou inserido: Carlos Drummond de Andrade. Se no célebre poema, o mineiro perguntava se fora a vida ou o automóvel que parara, Flávia pega carona com o mestre e mostra que, assim como ele, não é a poeta de um mundo caduco.
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O leitor há de encontrar aqui uma poesia altamente provocativa, no sentido de instigar (e até mesmo debochar) sendo, ao mesmo tempo, terna e acolhedora, no sentido de ser um chão que ampara quando tudo em volta desmorona.
Christovam de Chevalier